O topo, além de masculino, também é branco?

Começo esse texto já dizendo que embora este não seja o meu lugar de fala, é uma sincera busca por entender o lugar do outro. Não estou tentando apresentar esse lugar como quem fala dele, mas, sim, apresentando alguns fatos e me dispondo a uma reflexão junto com vocês! E assim, como qualquer pessoa, me reservo o direito de errar e até mesmo de estar, em alguns pontos, equivocada.


Primeiramente, gostaria de apontar que o empreendedorismo pode parecer luxo para alguns, mas, a verdade é que a grande maioria dos empreendedores exercem a função por necessidade e não por paixão. As pessoas precisam trabalhar, precisam ganhar dinheiro, precisam viver. Então, para uma grande maioria, o empreendedorismo não é liberdade (financeira, de tempo, geográfica), mas sim fruto da necessidade de um povo que não consegue emprego, oportunidades e boas remurenações.


Além disso, o Brasil é o país com maior número de empreendedores, sendo cerca da metade, mulheres empreendedoras. Ainda, se pensarmos só em microempreendedores (MEI), as mulheres representam 48% dos CNPJs.


Mas, ainda, entre essas mulheres, existe um outro recorte necessário de ser feito que pode inclusive nos assustar, mulheres negras tem muito menos oportunidades do que as mulheres brancas. Isso significa que até no empreendedorismo feminino (que já representa um lugar importante para nós), existe ainda a presença do racismo estrutural, que se apresenta como um ponto importante de ser pensado e refletido para poder gerar mudança.


Vamos observar: considerando que a grande maioria dos empreendedores hoje, o fazem por necessidade e não porque queriam ou tiveram uma oportunidade, podemos destacar, segundo o SEBRAE que apenas 35% das mulheres brancas empreendem porque precisam, e se tratando de mulheres negras esse número sobe para 51%.


As funções que mulheres brancas e negras exercem também parecem ser diferentes, e o SEBRAE apresenta que a principal função das mulheres negras são relacionadas aos serviços domésticos, além de recebem a menor renda média de aproximadamente R$ 1.384,00.

É possível percebermos que um fato leva a outro. A população branca, em regra, tem mais escolaridade que a população preta, e isso reflete em todas as outras oportunidades que brancos e negros terão, mantendo, assim, cada vez mais brancos e menos negros em posições de destaque ou até mesmo, lugares de oportunidade.

Percebemos que se empreender é um desafio para quem arrisca, muito mais é para as mulheres negras, vez que os desafios a serem superados são muito maiores. Quando se trata de empréstimos bancários, as mulheres pretas tem muito menos chances de conseguir, mesmo se não tiverem restrição no nome ou impedimento para o empréstimo.

O que queremos apresentar aqui é que embora falamos tanto sobre empreendedorismo feminino, e sabemos que essa luta tem causa e necessidade, ainda é possível chegarmos em um lugar mais delicado, onde as oportunidades são ainda mais escassas. É onde ser mulher é ainda mais difícil. A luta da mulher é necessária, mas a luta da mulher preta é um lugar que precisamos nos dispor a olhar com empatia e fortalecer essa luta e a voz que elas tem.

Nosso sonho é por um mundo onde não seja necessário segmentar nada, não seja necessário falar em empreendedorismo feminino, basta dizer, empreendedorismo, onde não é preciso falar mulher preta, basta dizer mulher, ou ainda, basta dizer humano, gente, pessoa. Enquanto esse dia não chega, seguimos na luta que não escolhemos, mas pela qual precisamos lutar.

Bruna Thalita

Bruna Thalita

Bruna Thalita tem 27 anos, e tem se descoberto uma mente multipotencial. É advogada, historiadora por formação, empreendedora desde muito nova e escritora por paixão e necessidade.

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