O glamour do empreendedorismo é tudo mentira!

Você já parou para observar alguém empreendendo? O que você vê?

Vamos analisar dois cenários:

Em um, você observa uma empreendedora levantando às 08h, indo para a academia, voltando para casa, tomando o café da manhã tranquilamente, começando a trabalhar por volta das 10h. No horário do almoço, marca uma reunião ou um encontro com uma amiga às 13h e depois retorna para o trabalho às 15h, e então, alguns dias da semana você vê essa empreendedora postando um happy hour pós trabalho. Tudo o que você pensa é como é bom empreender, fazer os próprios horários, ter pessoas trabalhando para você, não se preocupar com dinheiro.

Em outro, você não vê, mas seria mais ou menos assim: a empreendedora acorda às 08h, mas ela havia ido dormir já passava da 01h da madrugada, faz o treino na academia com disciplina porque sabe o quanto isso é necessário para viver melhor, mas não se engane, ela não vai todos os dias e mesmo quando vai, as demandas não param de chegar enquanto ela treina. Toma o café da manhã enquanto resolve vários BOs no telefone, por ligação e WhatsApp, sai para trabalhar às 10h, e almoça vez ou outra com uma amiga, pedindo licença algumas vezes para atender uma ligação ou responder uma mensagem urgente. Após voltar para o trabalho, ela não tem horário para terminar, alguns dias, ela consegue ir no happy hour, mas na grande maioria está ausente. Geralmente, não termina de trabalhar até muito tarde, e são comuns as noites em que ela não dorme direito preocupada ou com alguma ideia maluca para a empresa. A sensação que ela tem é a de que está trabalhando 24h, tem dificuldade para se desligar do trabalho até quando está em momentos de lazer e de férias, se é que ela tem férias.

Existe uma coisa bonita em torno do empreendedorismo, uma imagem de uma mulher com o cabelo sempre impecável, unhas feitas, maquiagem clean, horários flexíveis, dinheiro na conta, com uma roupa bonita, blazer bem apresentável, colares, anéis e pulseiras. Tudo em harmonia, tudo belo, tudo muito incrível. Mas, me preocupa muito, o fato de não mostrarmos nossos cabelos amarrados para cima, nossas olheiras, nossos rostos sem dormir, ou a melatonina do lado da cama pra quando estiver muito difícil pegar no sono. Me preocupa não mostrarmos o pantoprazol que carregamos na bolsa tentando controlar a gastrite. Ou nossos exames de sangue com cortisol alterado e vários outros. Ou ainda, me preocupa não mostrarmos a solidão que é ser empreendedora.

Na maioria das vezes, andamos sozinhas, estamos sozinhas, decidimos sozinhas, fazemos sozinhas. Empreender é, ao menos por um tempo, uma caminhada só, é  você por você. No início, a maioria das pessoas não acreditarão nos seus sonhos, acharão que seus esforços e seus sonhos são grandes demais e impossíveis de realizar e que isso é o tipo de coisa que só acontece para algumas pessoas, e que essas pessoas são mais especiais. No início, você não terá uma equipe, você não terá muitos recursos, você não terá muito apoio. Você será sua equipe, você será sua apoiadora. Até quando você começar a realizar e as pessoas começarem a validar os seus sonhos e as suas conquistas. E aí, nesse momento, ou elas irão te pedir ajuda ou elas irão dizer como você mudou.

Existe uma realidade de renúncia, de momentos perdidos, de festas que não fomos, de jantares que chegamos atrasados ou nem conseguimos chegar, de viagens que não pudemos ir, de momentos importantes que não estivemos presentes porque estávamos correndo atrás dos nossos sonhos ou fatigadas demais para tentar fazer qualquer coisa que não fosse nos jogar na nossa cama e ficar ali, olhando pro nada buscando forças para o nosso corpo.

É, eu sei que pode parecer um cenário muito extremo e um grande exagero, mas se você perguntar para qualquer empreendedor, principalmente em início de carreira, você vai perceber que essa realidade é mais real do que você imagina. É por isso que muitas muitas pessoas começam a empreender imaginando que a vida vai ser melhor e logo param, deixam o empreendedorismo de lado e começam a olhar para ele como algo distante demais. Porque, na verdade, empreender pode até parecer legal demais, mas é um trabalho sem horário para terminar. A partir do dia que você diz, esse é o meu dia 1 empreendendo, você nunca mais saberá quando parou de trabalhar. Sabe por que? Porque você vai dormir e sonhar com o trabalho, vai acordar no meio da noite com uma ideia nova e vai demorar horas pra dormir pensando em algo que precisa ser feito. Vai acordar com mil e uma demandas que não estavam programadas para aquele dia e adivinha quem precisará resolvê-las. Isso mesmo, você! Vai ter sua agenda mudada diversas vezes na semana e só vai finalizar o dia de trabalho quando der e se der.

E talvez, você esteja se perguntando por que eu estou te contando isso. Simplesmente, porque ninguém te conta isso. Na internet, todo empreendedor quer ter pinta de bem sucedido, de quem tem tudo sob controle, de quem tem a vida em harmonia, mas ninguém te fala sobre o quão doloroso e exaustivo é empreender. Ninguém te fala sobre a quantidade de coisas que você precisará renunciar, sobre os amigos que vai perder, sobre a solidão de ir atrás dos seus sonhos. Ninguém te fala que empreender dói, cansa e é muito muito difícil.

Não pense que eu quero te desmotivar, muito pelo contrário, eu quero te contar o que te espera depois da decisão de empreender, o que tem do outro lado dessa carreira que nós escolhemos.

Uma vez, ouvi que a felicidade que tanto queremos, está depois do medo. Eu sei que empreender dá medo, principalmente quando assumimos compromissos maiores do que nós. Eu sei que não saber nossos salário ou se vamos conseguir pagar as contas, nos faz tremer nas bases e nos deixa inseguras. E é por isso e somente por isso que empreender não é pra qualquer um, assim como ser engenheiro, médico, advogado ou qualquer outra profissão nao é pra qualquer um, é pra quem realmente quer empreender.

Pra mim, na minha vida, empreender é a forma de realizar os meus sonhos mais doidos e eu não me vejo fazendo nada além disso, apesar de todos os desafios do empreendedorismo, esse é o desafio que eu gosto, é o jogo que eu amo jogar e nem posso dizer que é o jogo que eu sei jogar, porque estamos todos aprendendo a cada dia. Empreender é um exercício de resiliência e aprendizado.

Mas, eu não quero que você entre nesse jogo enganada. É  maravilhoso quando conseguimos chegar no patamar de ter um bom salário, de ter flexibilidade nos nossos horários, de ter mais liberdades. Mas, até lá, a estrada não é das mais fáceis. Empreender não é um caminho fácil, mas é um caminho (ou o melhor) para muitos de nós.

Se você está começando a empreender, seja bem-vinda a esse universo desafiador, fascinante, viciante e cheio de curvas… empreender é um caminho incrível! Sucesso para nós!

Bruna Thalita

Bruna Thalita

Bruna Thalita tem 27 anos, e tem se descoberto uma mente multipotencial. É advogada, historiadora por formação, empreendedora desde muito nova e escritora por paixão e necessidade.

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