Quero começar esse texto falando sobre mim, assim, você poderá entender melhor o meu ponto de vista. Sou mulher, tenho 28 anos, quero ser mãe e atualmente estou focada na minha carreira.
É importante dizer isso porque sei que muitas mulheres, atualmente, não têm o sonho da maternidade (o que não tem nenhum problema), então uma vez tendo me apresentado, fica claro qual é o ponto de partida que estou tomando.
Pessoalmente, não acredito que o sonho da maternidade seja possível de ocupar o espaço do sonho profissional, nem vice-versa. Acredito piamente que ambos podem coexistir, afinal uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Mulheres que querem ser mães, não se realizam se somente tiverem sucesso profissional. Mulheres que querem sucesso profissional, não se realizam apenas tendo filhos lindos e inteligentes. É possível ter um deles, mas também pode ser possível ter os dois.
Também, não podemos negar o desafio que é exercer as duas coisas: maternidade e a sua profissão. Nem o desafio que é exercer só uma delas.
Quero compartilhar com vocês, uma historia que aconteceu recentemente e me fez entender como precisamos aprender a olhar para os cenários de formas diferentes e aproveitá-los ao nosso favor.
Recentemente, uma pessoa me procurou dizendo que estava com muita dificuldade de voltar para o mercado de trabalho após o tempo que ficou afastada para cuidar dos filhos. Durante a conversa, percebi que essa mulher possuía algumas crenças limitantes sobre si mesma, e olhava para a maternidade como um impeditivo, afinal, já não estava atualizada com as demandas atuais, já que havia ficado cerca de 3 anos em casa cuidando dos dois filhos pequenos.
Nessa conversa, pedi para que ela me contasse sobre o dia dela, a rotina, como eram as coisas em casa, e as atividades diárias mesclavam entre: dar café da manhã para as crianças, começar a arrumar a casa, parar para arrumar a mais velha para a escolinha, fazer almoço, arrumar o que as crianças desarrumaram pela manhã, aí o menor queria colo, parava para cuidar dele, voltava para terminar de arrumar a casa, já era hora da mais velha sair da escola, voltar pra casa, fazer o jantar, ajudar a filha na tarefinha da escola, arrumar a cozinha novamente, e tentar dormir, até que uma delas acordasse no meio da noite. No meio disso, às vezes precisava ir ao mercado, levar um deles ao médico, fazer algo que o marido pedia, ajudar a mãe dela, sem falar sobre as outras atividades que as crianças tinham durante o dia, como natação, inglês e outros. Enfim, era uma mistura de tarefas e responsabilidades que a maioria dos gestores não dariam conta, mas aquela mãe (e tantas outras) fazem diariamente sem nem perceber. Havia pouco tempo (ou nenhum) para cuidar de si, mas uma organização, talvez inconsciente, para que tudo saísse como necessário, para que a filha não chegasse atrasada na escola, para que tudo estivesse pronto quando o marido chegasse, para que a casa estivesse sempre o mais arrumada possível.
Ou seja, ali tinha doação, compreensão, gestão de pessoas e emoções, organização, análise das demandas mais urgentes, gestão de tempo e muita muita entrega de resultados.
Ouvindo essa mulher me contar isso, eu disse para ela: “Se eu fosse você, isso faria parte do meu currículo, com certeza. Seria meu mais recente trabalho e eu faria questão de descrevê-lo em uma entrevista.”. Ela ficou me olhando, pensando, e por motivos claros, concordou. Colocou a descrição da maternidade no currículo e conseguiu o emprego na primeira entrevista que fez.
Ah, Bruna, mas você está comparando maternidade com profissão? Não, mas não deixa de dar muito trabalho e de exigir muita muita habilidade e gestão. Essa história é só pra te fazer olhar com outros olhos e te ajudar a perceber como carreira e maternidade podem estar mais próximas do que você já tinha imaginado.
Temos dados que comprovam que as mulheres conseguem desenvolver mais atividades do que os homens ao mesmo tempo, temos estudos que mostram como a presença de mulheres em cargos de liderança fazem diferença positiva para a empresa, como as mulheres podem ser mais assertivas nas tomadas de decisão, já que possuem um olhar mais amplo, e como contribuem para um ambiente de trabalho melhor.
Ainda, temos exemplos de mulheres que são referências nas suas áreas de atuação, mulheres que conquistaram espaços que antes não haviam sido ocupados por nós, mulheres que têm feito história no mercado e aberto portas para todas nós.
Eu não sei qual o seu sonho profissional, nem mesmo se você tem um. Não sei qual o seu sonho sobre a sua família, se deseja ser mãe ou não. Mas, eu tenho certeza que você deseja se sentir realizada naquilo que é importante para você.
A maternidade é linda (e, certamente, dolorosa também) para quem deseja ser mãe. A conquista profissional é linda (e, inquestionavelmente árdua) para quem deseja construir uma carreira. A realização de um deles ou de ambos é individual.
E nós sabemos que o dilema da maternidade e da vida profissional existe para todas nós, inclusive (e talvez, principalmente) para quem ainda não tem filho.
Esse texto não é uma resposta, talvez seja só um pensamento, uma reflexão, uma tentativa. Mas, eu espero que o seu sonho profissional, não lhe roube o sonho da maternidade. Nem que o sonho da maternidade lhe roube o sonho profissional.
Eu só espero que quando olhar para o seu sonho, não precise enfrentar os dilemas que a sociedade tantas vezes impõe sobre nós, mulheres, e que você encontre e realize o sonho que te faz feliz, completa, plena e realizada.
Se a maternidade é um dilema, ou se a vida profissional é um problema. Que seja para os outros, não para nós!
Nessa data tão especial, quero parabenizar a todas as mamães empreendedoras que temos aqui, a gente não sabe como vocês dão conta, mas, sabemos que são incrivelmente fortes e poderosas… queremos aprender com vocês!