Quando falamos sobre a Síndrome da Salvadora estamos nos referindo ao comportamento de mulheres que colocam toda a sua energia no outro, estando sempre dispostas a ajudar, disponível para dar conselhos, sendo gentil e prestativa, fazendo tudo pelo outro, muitas vezes a custo de si mesma.

Elas sentem constantemente a necessidade de “salvar” os outros de seus problemas pessoais, de situações da sua vida particular ou de dificuldades de qualquer ordem, que eles tenham se metido por conta própria. Sendo as “mãezonas” de todos, as salvadoras costumam procurar pessoas que precisam de ajuda para exercer sua bondade, sacrificando suas próprias necessidades, desejos e aspirações. 

Esse comportamento, quando observado superficialmente, acaba sendo muito louvado, elogiado e até mesmo apontado como um modelo a ser seguido. Isso, claro, traz ganhos  sociais a essa pessoa, que se torna necessária, aceita, aprovada e até desejada, afinal de contas parece muito bom tê-la sempre por perto.

É claro que ajudar o próximo é algo muito importante já que vivemos em sociedade e devemos desenvolver uma postura de interdependência. Mas não é disso que se trata o tipo de comportamento da Salvadora.

Ela costuma ser excessiva e essa postura pode ser prejudicial tanto para ela mesma, quanto para a pessoa a quem ela endereça a sua salvação, gerando um sentimento de debito à pessoa que é ajudada. 

Uma Salvadora não consegue olhar para o outro acreditando que ele seja capaz de lidar com o seu problema e pensa que somente ela tem a solução para resolver aquela situação. Ao ajudar ou salvar o outro, ela se sente realizada. Tudo isso pode acontecer a nível consciente e também inconsciente.

Podemos enumerar algumas razões ocultas por trás das boas ações e intenções de ”ajudar”, que podem ser medos, necessidades de controle, busca por aceitação e pertencimento, desejo de se sentir necessária, mede da rejeição, entre outros.

Esse tipo de dinâmica pode ocorrer em todos os tipos de relação, nas amizades, nas relações famíliares e nos relacionamentos amorosos.

As mães muitas vezes fazem isso com os filhos, e esse comportamento pode aparecer disfarçado de super proteção ou mesmo de amor, prejudicando o desenvolvimento e a autonomia do filho em qualquer fase da sua vida, desde a infância, adolescência e vida adulta.

Essas Salvadoras, no intuito de ajudar, exageram na dose gerando relacionamentos adoecidos pela dependência e co-dependência onde nenhuma das partes sentirá realmente feliz. A pessoa que é dependente terá cada vez menos autoestima e autoconfiança, enquanto o outro se sentirá sufocado com tantos problemas para resolver.

Esse modo de se comportar pode facilmente levar à criação de relacionamentos tóxicos, onde um dos indivíduos acredita que precisa constantemente da ajuda do outro para se sentir bem, para conseguir desenrolar a vida e resolver os próprios problemas, com a crença de que não pode viver sem essa pessoa e o outro, a salvadora, se sente mais forte graças à essa dependência, se sente necessária e muitas vezes encontra nisso, o sentido para sua existência e vai acumulando devedores no seu caminho. 

É preciso entender que ajudar, muitas vezes, requer um certo recolhimento e reconhecimento da capacidade do outro perante a sua própria vida e seu próprio problema. Ajudar é importante, na medida em que essa ajuda não é excessiva, inoportuna e intrusiva.

Você se vê com comportamentos de Salvadora em alguma das suas relações?

Vou deixar aqui alguns pontos para reflexão que poderão te auxiliar caso você se identifique com essa síndrome:

1- Aprenda a dizer não

Para muitas pessoas, recusar-se a fazer o que um alguém querido pede é extremamente difícil, no entanto, dizer sim para o outro e não para si pode ter muito peso, trazendo futuras cobranças e adoecendo as relações.

2- Lembre-se: cada pessoa deve se responsável por sua própria vida, por suas emoções, por suas ações e consequências. Todos somos capazes e responsáveis e podemos, de modo geral, lidar com nossas questões.

3- Estabeleça limites

Saiba seus limites e também quando sua ajuda está invalidando o espaço do outro. Se você observar atentamente, vai saber até onde deve ir.

4- Seu bem estar é sua responsabilidade

Especialmente nós, mulheres, crescemos acreditando que cuidar do próprio bem-estar antes dos outros é ser egoísta. Mas se uma ação vai fazer você infeliz, fazer isso não faz sentido. Não podemos nos acostumar com o que não nos faz bem e a estar sempre em segundo plano. Dê exemplos de autocuidado e mostre como você poderia resolver o problema ao invés de resolver de fato.

5- Somente interfira à medida que as circunstancias permitem. Ajude quem pediu e quem realmente precisa.

6- E por último, aprenda a pedir. Não seja auto-suficiente, é saudável permitir que o outro também faça por você. Dessa forma você estará restaurando o fluxo de dar e receber, tão importante em todas as relações.

Se você perceber que precisa, busque auxilio profissional para fortalecer seu senso de valor e amor próprio, afinal as pessoas costumam gostar de quem gosta de si e respeitam quem se respeita primeiro.

Espero ter ajudado!

Com carinho,

Fatima Aquino

Fátima Aquino

Fátima Aquino

Fátima Aquino - Psicóloga Clínica - CRP 04/45482, Pós graduação em Psicanálise e em Terapia Familiar

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