Pai, esse rótulo de peso e responsabilidade. Uma pessoa que não gera, mas que cria, nutri, orienta e se torna uma referência para aquele ser que por tanto tempo depende dele. Culturalmente a mulher, por vezes, desde muito nova é apresentada ao movimento do cuidar, diferente do homem. O homem na idade adulta, ao se deparar com essa função tão importante, precisa entrar no processo de construção.
A mulher sente a mudança na pele, nos hormônios, na dor, no desconforto, se tornando mãe. Ao se tornar pai, esse homem que antes era só homem, precisará, sem sentir no corpo físico, passar por uma transformação para se tornar pai, e esse processo leva tempo, pode ser que aconteça somente quando um chute for sentindo pelas suas mãos ou quando um ultrassom te mostrar que ele tem o seu nariz ou aquele pé tão pequenininho, enrugado e não tão visível na tela de um computador se parece com o seu. Por vezes a sensação de ser totalmente responsável por uma vida chegue somente ao senti-la no seu colo, tão frágil e ao mesmo tempo forte pois saiu de um lugar tão confortável para vir ao mundo.
A paternidade, assim como a maternidade, coloca o homem como uma figura permanente no mundo, algo que após ser construído, não será tirado ou esquecido por si. E cabe a esse pai dizer ao bebe que existe alguém além da mãe e caso esse pai não consiga acessar essa criança, ficará um buraco.
O papel do pai é importante e indispensável. Uma boa mãe, ou uma mãe suficientemente boa, como diz Winnicott, não isenta ou supri o papel de um pai, essa falta permanecerá, em alguns ela será mais ou menos sentida, pois o meio pode contribuir.
Junto com a formação de um pai neste homem, chega também medos, inseguranças, alegria, esperança e uma dose infinita de amor. Todas essas sensações, por vezes novas pode causar espanto. Mas saber que existe alguém ali que precisa que esse pai nasça junto com ele e que a sua personalidade, as suas escolhas, sua forma de se perceber no mundo e perceber o outro serão influenciadas pelo pai que ele irá se tornar, tem um poder enorme e esse conhecimento pode gerar uma força incrível para que esse homem enfrente os obstáculos e medos dessa nova e importante função.
Se tornar pai é se lembrar de que um dia você foi filho. É entrar em contato com lacunas ou excessos, com erros e acertos. É se recordar do que de bom você viveu quando era apenas filho e pensar em concertar as transferências que o seu pai um dia, sem querer te passou. Se tornar pai não é sobre encontrar um guia ou um manual, é pensar em como não machucar quem depende tanto de você. Não é só sobre pensar o que aquele ser tão pequeno precisa que você seja, mas pensar também o que você espera de si mesmo. É muito mais sobre acessar as suas próprias dores e angústias para que elas não se tornem as dores e angústias do seu filho.
Ao mesmo tempo que o pai passa por esse processo tão doloroso e ao mesmo tempo digno. Tem uma criança, que em meio a tantas novidades, nem sempre boas, se esforça para sobreviver a tanta cor, cheiros, olhares, toques, barulhos e desconforto. E uma mãe que se recupera de uma grande mudança e ao mesmo tempo – quase que sem tempo – se prepara também para o novo que chegou. Se tornar pai é entender que estão todos juntos em um barco, aonde todos precisam remar e que a sua mudança talvez só tenha começado agora.
Se tornar pai é comemorar, mas não só no mês de Agosto, em cada conquista.
Eu desejo aos pais um feliz dia dos Pais e aos filhos e filhas que se assim puderem aproveitem também com os seus!