“Eu não consigo entender, parece que é o mesmo filme se repetindo. Minha esperança se renova a cada novo relacionamento, mas com o passar dos dias tudo se repete, parece que já andei por aquele “caminho”, conheço onde isso vai dar… E sempre dá no mesmo lugar, eu sendo enganada, passada para trás, sendo colocada em segundo plano. Não consigo ser prioridade para ninguém…”
Relatos como esse são freqüentes na clinica. Não poucas vezes ouvi isso durante meus atendimentos e posso afirmar que reconhecer isso já é um estagio avançado, que muitas mulheres não conseguem alcançar sem um auxilio profissional.
Estar em relacionamentos semelhantes e escolher sempre o mesmo tipo de homem é uma das característica das mulheres que identificamos como tendo o “dedo podre”. São mulheres que vivem as mesmas situações, com diferentes pessoas, sempre em busca da pessoa certa.
Geralmente são homens complicados, indecisos, presos a relacionamentos do passado, comprometidos ou sem interesse em manter algo sério.
Encontrar a “pessoa certa” para se relacionar não é uma questão de sorte ou azar, é uma construção que começa em você. Nada acontece na sua vida que não seja através de você.
A partir dessa forma de pensar, não é difícil responder a seguinte pergunta:
O que existe em comum entre esses homens com quem você se envolveu? VOCÊ.
Acredite, o problema dos seus relacionamentos ruins pode ser você.
Não estou dizendo que não existam homens canalhas, sem caráter, sangue frio, narcisistas, que faça tudo de forma calculada. Sim, eles existem.
Mas será que todos os 10 namorados que você teve respondem a esse padrão? Dificilmente.
Então voltemos nossa atenção onde ela deve estar, em você.
Nossa visão do mundo, do outro, das relações e de nós mesmas é formada a partir das experiências e do ambiente em que vivemos desde a nossa infância, e são eles que constroem em nós a forma de ver e de relacionar, tanto conosco mesmas quanto com o outro e com tudo a nossa volta.
Por exemplo, se você teve um lar onde a figura masculina era fria, demonstrava pouco ou nenhum afeto, se você não cresceu sendo apreciada, valorizada, elogiada e amada, é bem possível que tenha internalizado que amor é isso, e que ser amada é dessa forma e assim, acaba sempre escolhendo homens que tenham essas atitudes.
Pode ser que você tenha aprendido esse padrão, e hoje nas suas relações, aceite esse “pouco” e até se incomode quando recebe mais. Por isso algumas mulheres relatam que quando encontra um homem amoroso, interessado, carinhoso, sentem que o homem começa a grudar ou a ser muito afetivo, elas se cansam e vão atras de alguém que corresponda ao modelo do que é amar que elas tem internalizado, ou seja, o pouco afeto, uma certa frieza e uma falta de priorizacao, que é o modelo que elas apreenderam desde a infância.
A forma como os pais ofertam amor à criança é, muito provavelmente, a forma com que ela irá esperar receber amor do mundo e os padrões amorosos repetitivos serão consequências do tipo de criação que tivemos, ou seja, a maneira como a nossa família nos apresenta o amor é um fator decisivo na maneira como vamos lidar com esse sentimento ao longo da vida.
Freud chamou essa necessidade de repetir uma experiência familiar, de “compulsão à repetição”. Ele acreditava que era causada por uma pulsão de natureza física e psicológica. Recentemente, a neurociência apresentou a mesma explicação, descobriu que os neurônios gostam de caminhos conhecidos que são repetidos em looping para que o cérebro gaste menos energia e se mantenha estável.
Dessa forma, continuar a escolher relações com padrões comportamentais semelhantes tem a ver com a necessidade do ser humano de repetir o mesmo hábito, porque isso é mais confortável para o cérebro.
Assim é possível entender que por traz disso há uma razão psicológica e que nem tudo é uma questão de falta de sorte.
A partir desse olhar ampliado, é essencial compreender o porquê de ter dado errado sempre e se dar a chance de perceber que o término não é só por causa do outro. Se as relações terminam sempre da mesma forma, uma hora fica insustentável pensar que a culpa é só do outro.
Quando nos recusamos a olhar para nós, permanecemos com crenças rígidas e com os mesmos padrões comportamentais, o que gera um ciclo vicioso negativo que muitas vezes, acontece de forma inconsciente.
Por isso antes de amar e aceitar alguém, precisamos nos amar e nos aceitar.
É muito importante e produtivo olhar para nossas luzes e sombras, para nossas qualidades e defeitos e nos permitir rever e criar novos caminhos mentais, novas formas de ver a nós mesmas, o outro e as relações, desenvolvendo uma percepção saudável e ajustada de todas essas esferas.
Claro que isso não é algo simples ou mesmo fácil. Mas é possível e libertador.
Se sentir que precisa de ajuda nesse processo, não pense duas vezes e procure ajuda psicológica, esse é o caminho mais seguro para sua transformação.
Boa sorte!
Com carinho,
Fatima Aquino
Psicóloga Clinica