Com a chegada da internet e das redes sociais, podemos perceber uma mudança significa no comportamento das pessoas de modo geral, não me refiro apenas às crianças e adolescentes, mas também aos adultos. De certa forma essa novidade pegou a todos nós despreparados e sem saber como lidar com suas consequências.
Sempre existem prós e contras, pontos positivos e negativos, mas quando se trata das tecnologias, internet e redes sociais fico com a impressão de que ficamos todos inebriados com suas delícias e suas infinitas possibilidades que só depois de um bom tempo estamos parando para nos atentarmos às consequências e aos impactos negativos do uso excessivo. Pesquisas mostram que há uma tendência ao aumento do tempo gasto on-line, sendo que a média de tempo em que o brasileiro passa conectado pode variar bastante, dependendo da faixa etária, do acesso à internet e de outros fatores. Em média as pessoas tendem a passar entre 3 e 4 horas por dia nas redes sociais e os adolescentes e adultos jovens, tendem a passar ainda mais tempo nessas plataformas.
Ainda há muito a ser estudado mas já é possível perceber que o vício em tecnologia pode afetar a saúde mental de várias maneiras.
O impacto da tecnologia na saúde mental é um tema relevante e vale a pena observar alguns aspectos como, por exemplo, o aumento do isolamento social, já que o uso excessivo de dispositivos tecnológicos pode levar a uma redução no tempo dedicado a interações face a face, comprometendo os relacionamentos interpessoais.
O tempo gasto em redes sociais pode substituir o tempo que as pessoas passariam interagindo pessoalmente, o que pode resultar na diminuição das habilidades sociais e na falta de prática em situações sociais reais.
Especialmente por parte da chamada geração Z, nascido entre 1995 a 2010, é fácil perceber através de uma rápida observação, a dificuldade que muitos apresentam para se relacionar pessoalmente, para estabelecer um diálogo sem a mediação de um celular ou computador e a pouca habilidade para lidar com todas as emoções que estão envolvidas nas relações humanas.
Embora as redes sociais possam fornecer uma sensação de conexão, o uso excessivo delas pode levar a uma dificuldade de interação social e de se relacionar com o próximo no mundo real, do olho no olho, do calor da presença, levando a interações superficiais e menos significativas, onde as pessoas se concentram mais em compartilhar aspectos selecionados de suas vidas do que em desenvolver relacionamentos genuínos, significativos e saudáveis.
Mesmo que as redes sociais forneçam uma aparente conexão, certamente não substituem a verdadeira interação humana. Com isso as pessoas tem sentido cada vez mais um aumento da solidão e da sensação de desconexão, especialmente quando as interações online não são satisfatórias, favorecendo o aparecimento de processos depressivos.
Um outro aspecto importante a se considerar é a grande busca por validação social, que se dá através de curtidas e comentários, ainda mais por parte do pré-adolescente e do adolescente e por um padrão de comparação constante e prejudicial com outras pessoas, o que pode gerar sentimentos de inadequação e baixa autoestima, quando comparamos nossas vidas comuns com as vidas idealizadas de outras pessoas, apresentadas nas redes sociais.
É como se comparássemos nossos “bastidores” bagunçados, com os lindos “palcos” das outras pessoas, as nossas lutas e dificuldades diárias com a alegrias e vitórias dos outros. Essa é por si só, uma comparação injusta e irreal.
O vício em tecnologia pode contribuir também, para níveis aumentados de ansiedade e estresse, especialmente quando há uma sensação de dependência constante em relação aos dispositivos.
O excesso de estímulos sensoriais por um longo período levam a agitação e dificuldades de relaxamento, prejudicando a capacidade de concentração e foco, afetando negativamente o desempenho acadêmico e profissional.
Diante disso, é importante reconhecer os sinais de vício em tecnologia, tanto nosso quando em nossos filhos, e adotar estratégias para promover um uso saudável e equilibrado. Isso pode incluir estabelecer limites de tempo, praticar o autocontrole, buscar atividades offline e desenvolver relacionamentos pessoais significativos.
Somos uma sociedade digital e não temos como negar ou ficar alheios a isso, e nem há essa necessidade, mas é importante equilibrar o uso de redes sociais com interações sociais significativas, com o cultivo de relações pessoais prazerosas, dedicando tempo a atividades que promovam conexões genuínas e gerem o sentimento de pertencimento, tão vital para o desenvolvimento e manutenção da nossa saúde mental.
Fica o alerta.
Fiquemos todas atentas a nós mesmas e ao nosso entorno!
Com carinho, Fátima Aquino Psicóloga Clínica