Moda: uma indústria feminina?

Por Carolina David

Ao jogarmos a palavra “moda” no Google Imagens encontramos imediatamente muitas imagens de roupas, passarelas, bastante cor-de-rosa e, acima de tudo, imagens de mulheres. Mulheres fazendo compras, usando roupas e acessórios, croquis femininos, etc. As imagens não diferem do imaginário coletivo e não é segredo que esta indústria é constantemente associada ao sexo feminino. Será que essa perspectiva é verdadeira?

Um levantamento realizado pela plataforma 1GRANARY (2025) aponta que nas universidades de moda espalhadas pelo mundo, as mulheres compõem cerca de 74% das turmas do curso, o que colabora para a perspectiva de uma indústria essencialmente feminina.

Os dados da ABIT (Associação Brasileira de Indústria Têxtil) de 2018 relatam que 64% da força de trabalho no mercado de moda brasileiro é feminina. Outras pesquisas apontam uma estimativa de 75%. Com base nisso, não há dúvida de que esta indústria baseia-se no trabalho de mulheres.

Neste caso, a moda seria um exemplo de mercado bilionário que se estrutura a partir de mulheres trabalhadoras, empreendedoras e competentes. Em outras palavras, uma indústria poderosa construída na base do girl power , no empoderamento feminino, desconstruída e livre de desigualdade de gênero – ou, como diriam alguns, desigualdade de gênero contra a minoria masculina.

Neste caso, a moda seria um exemplo de mercado bilionário que se estrutura a partir de mulheres trabalhadoras, empreendedoras e competentes. Em outras palavras, uma indústria poderosa construída na base do girl power, no empoderamento feminino, desconstruída e livre de desigualdade de gênero – ou, como diriam alguns, desigualdade de gênero contra a minoria masculina.

Infelizmente, os dados se apresentam um pouco mais complexos do que isso: apesar da superioridade feminina ao longo da cadeia de moda, em 2016, dos 50 maiores CEOs de empresas nacionais no setor, apenas 14% eram lideradas por mulheres. Também não havia nenhuma dama entre os 10 CEOs mais bem pagos da indústria. De acordo com a mesma pesquisa da 1 GRANARY, apenas 12% dos diretores criativos são diretoras.

Na última edição do principal evento de moda no calendário nacional, a SPFW N°59, 17,64% das marcas desfiladas eram de autoria feminina. Essa diferença está escondida no imaginário coletivo, que mesmo recheado de estereótipos, traz um reflexo da realidade: ao pensarmos em moda, pensamos em mulheres, mas a figura masculina é a que ocupa o papel do estilista, do executivo, do industrial.

Vale ressaltar que não é demérito dessas figuras masculinas terem escalado aos altos cargos e terem seus respectivos trabalhos reconhecidos. A questão abordada é o fato, no mínimo curioso, de que as porcentagens e estereótipos se apresentem tão discrepantes.

O que ocorre é que 64% da indústria não desaparece quando necessitamos de profissionais competentes para assumir altos cargos. Essas mulheres apenas não são contempladas. É improvável que, dentre um grupo tão extenso de trabalhadoras, não existissem algumas tão competentes, esforçadas, e que desejassem avidamente estas posições, em comparação com os trabalhadores da indústria, que estão inegavelmente em menor número.

Apesar da fama de ser uma área vanguardista e ‘pra frentex’, a moda como indústria não difere de tantas outras no mercado nacional: dados do IBGE mostram que as mulheres ocupam apenas 39% dos cargos de liderança no Brasil.

A moda foi, é e sempre será uma ferramenta de análise comportamental, um reflexo de nossa sociedade. Naturalmente, a produção deste setor não falha em cumprir o mesmo papel de denunciadora social, nos mostrando que ainda temos um caminho a percorrer na equidade trabalhista.

Revista Revolution

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