O conceito de máscaras (persona) foi originado na psicologia analítica, ou como também é conhecida, psicologia junguiana. Segundo o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung, todos apresentamos personas ou máscaras sociais ao representarmos nossos diversos papéis e fazemos isso na tentativa de nos aproximar daquilo que pensamos ser uma representação aceitável de nós mesmas ao outro e ao mundo, já que todas temos receios de nos apresentar como somos. São máscaras de artificialidade que se sobrepõe à nossa verdadeira natureza.

Nossas máscaras servem para orientar expectativas e impressões, para nos sentirmos melhor conosco mesmas. A idéia de que estamos em um palco muitas vezes nos parece verdadeira. Representamos em cada contexto da nossa vida e dessa forma nos relacionamos com as outras pessoas e com cada situação, adotando máscaras diferentes conforme o ambiente social. 

Usamos essas máscaras sempre que o medo de sermos mal vistas, rejeitadas ou agredidas pelo que somos ou desejamos, aparece.

Jung fala da máscara social, sobre o que um ser humano devia “parecer ser”, como uma saída os receios que todos temos de nos apresentarmos como somos e como uma tentativa de sentir-nos melhor para enfrentar situações desagradáveis. 

Tudo isso nos influencia a representar e a usar nossas máscaras.

As máscaras teatrais surgiram na Grécia antiga, eram utilizadas para encobrir o rosto dos atores, dando a eles a oportunidade de representação e a ênfase aos papéis que representavam.

Do grego temos também a persona, que é um termo que significa máscara.  A palavra personalidade vem de persona e Carl Jung, descreveu a persona como a imagem que uma pessoa se mostra externamente, e a atitude que assume como resposta às situações dentro das suas vivências e experiências. Essa máscara encobre o “eu” dando lugar a essa persona que é uma representação de nós mesmas.

Claro que tudo isso se dá, na grande maioria das vezes de modo inconsciente.

As redes sociais mostram isso com clareza. Não pense agora na rede social de alguém, pense na sua. Dê uma olhada nela após a leitura desse texto e avalie se lá não estão as máscaras ou a persona que você escolheu apresentar ao mundo.

Veja bem, eu não estou te repreendendo ou julgando por isso, de forma nenhuma, até porque todos nós nos valemos dessas máscaras, em maior ou menor grau. Porém é muito válido reconhecer esse mecanismo.

É evidente que o uso de máscaras podem criar um reduto de segurança, mas isso também pode gerar o risco de que nem nós mesmas saibamos bem quem somos de tão identificadas que nos tornamos com nossas máscaras ou personas, já que isso geram um senso de proteção em nós, das expectativas e censuras dos outros. Por isso torna-se difícil viver sem algum tipo de máscaras.

Mas podemos viver de máscaras o tempo todo?

Qual o perigo de usá-las?

O que resta de nós se as tirarmos?

Quais as máscaras utilizamos todos os dias e nem percebemos?

Desde a infância aprendemos a desenvolver nossas máscaras, mas podemos formá-las também na adolescência e na fase adulta, dependendo da necessidade, já que as máscaras são uma estratégia de interação com nossas primeiras referencias, ou seja, a família e posteriormente com as demais pessoas.

A máscara mais comum vem da necessidade de reconhecimento, pertencimento e aprovação que todo ser humano tem e para alcançar isso, começamos a “agradar” desde a infância. Com nossa máscara começamos a agradar a todos (muitas vezes a custa de nos desagradar) puramente pela necessidade inconsciente de ser aceita, amada e reconhecida.

Com o passar do tempo, se essa necessidade não é suprida, as máscaras se fortalecem, em uma busca externa, incessante e frustrante, na qual os comportamentos vão sendo repetidos a todo tempo e a todo custo e nós nos podemos nos perder e nos distanciar demais do nosso verdadeiro eu. Quando nos perdemos de nós e nos distanciamos demais de quem somos, nos tornamos vazias, tristes, sem esperança e insatisfeitas com a vida que temos. Olhamos para nós e não sabemos quem somos, só temos a certeza de que o que vemos de nós, não é o que gostaríamos de ser.

É preciso entender que não somos as máscaras que criamos e o autoconhecimento pode ser um caminho a ser trilhado pois, ainda que doloroso em alguns momentos, produz em nós um retorno, uma volta (muitas vezes a infância) e uma nova oportunidade de chegarmos mais próximos da nossa essência e da vida que faz sentido.

Pode não parecer, mas não é nada fácil identificar nossas máscaras. Primeiro é necessário compreender que todos nós temos máscaras, e que elas são importantes para nossa saúde mental, depois devemos buscar reconhecer sua existência e ter como objetivo tornar consciente os conteúdos inconscientes. Tão importante como tomar conhecimento dessas personas é saber qual usar de acordo com a situação vivida, como um ator com seus personagens.

Vale lembrar que nos adaptar e responder às várias situações sociais com que nos deparamos não é o mesmo que fingir, passa por conciliar aquilo que queremos transmitir com o que o mundo realmente percebe sobre nós. Seja como for, não é fingir: é responder adequadamente às várias situações sociais, adaptando-nos a elas.

Quanto mais consciente nos tornamos de nossa verdadeira essência, mais se reduzirá a ação das máscaras em nossa vida, de modo que nós podemos e devemos usá-las mas nossa escolha deve ser sempre consciente, assertiva.

O processo de autoconhecimento pode elevar o nível de consciência sobre nós mesmas, e revelar quais tipos de máscaras são utilizadas, se elas são positivas ou negativas. E o mais importante, o que originou essas máscaras e nos fez reproduzir determinados comportamentos, nos auxiliando na resignificação dos acontecimentos e na manifestação da nossa essência.

Após a identificação das nossas máscaras se faz importante compreender quais são as negativas e porque elas são usadas, quais carências nos levaram a utilizar cada tipos específico de máscara. Existem muitas variações de personas e mascaras, por exemplo, a mascara da prestativa, da religiosa, da desapegada, da humilde, da boa moça, da sexy, da mãe de família, da batalhadora, entre tantas outras.

Você reconhece alguma dessas?

Se não, quais são as máscaras que você tem utilizado ao longo da sua vida?

Ter consciência de nossas máscaras nos dará a oportunidade de rever nossos relacionamentos e nossos comportamentos e nos dará o poder de irmos atrás da nossa essência e em busca do nosso verdadeiro eu.

Quanta complexidade tem o nosso ser não é mesmo?

E a gente que pensava que usávamos máscaras apenas para nos divertir ou nos disfarçar no carnaval…

Na verdade, o carnaval pode ser uma ocasião onde muitas mascaras “caem” revelando o self ou o “eu real”.

Espero que esse artigo seja revelador para você!

Com carinho,

Fátima Aquino

Psicóloga Clínica

Fátima Aquino

Fátima Aquino

Fátima Aquino - Psicóloga Clínica - CRP 04/45482, Pós graduação em Psicanálise e em Terapia Familiar

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